Tudo é permitido dentro dos princípios divinos, mas aquele que afeta o equilíbrio do mundo, de alguma forma, terá que recuperá-lo.
Tudo na vida trabalha para que cada pessoa desenvolva suas capacidades. Por isso, Marianne, com muita coragem, decide reencarnar e viver em meio à loucura. Numa jornada cheia de obstáculos e desafios, busca superar seus pontos fracos.
Marianne conta com o auxílio de seus guias espirituais, que lutam para que a jovem entenda que o maior desafio da vida não é o confronto com as situações do mundo, mas o esforço para que viva a verdade de todo o seu ser.
Lançado em 2010
Ordem de lançamento: 13º
285 páginas
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Prólogo
O sol mal acabara de nascer e Marianne já estava de pé, fitando com olhos marejados a imensa bola alaranjada que surgia no horizonte. Pela janela aberta, entrava uma brisa suave, trazendo o doce aroma do jardim, que a menina inspirou com prazer. Foi soltando o ar aos pouquinhos, sentindo imenso bem-estar.
Apanhou a túnica branca que passara a usar desde que chegara ali, vestiu-a com cuidado e penteou os cabelos, bem mais compridos. Olhou-se no espelho e sorriu. Nunca antes se julgara bonita. Agora, contudo, seu semblante havia adquirido um brilho e uma suavidade que até então não existiam.
Quando acabou de se vestir, ouviu batidas leves na porta e virou-se, no exato instante em que um rapaz alto e muito claro entrou.
– Bom dia, Marianne – cumprimentou ele, endereçando-lhe um sorriso jovial. – Como se sente hoje?
– Bem – respondeu ela, dando-lhe um beijo delicado nos lábios. – Graças a você, já consegui me reequilibrar.
– Graças a mim, não, graças a você mesma. – Percebendo o seu embaraço, ele prosseguiu com ternura. – O que foi?
Ela apertou as mãos dele e confessou:
– Em minha confusão mental, não lhe disse coisas que gostaria de ter dito…
– O que, por exemplo?
– Eu o amo. Sabia disso?
Ele sorriu e respondeu com emoção:
– Sabia sim. Não precisava dizer.
Era verdade. Pela primeira vez em muitos anos, Marianne dizia a Ross que o amava. E como o amava! Não fosse por ele, sua vida teria sido muito mais difícil. Aliás, a vida de Ross teve praticamente uma finalidade: seu amor por Marianne era tanto que ele pediu para reencarnar ao lado dela, só para ajudá-la a atravessar o tortuoso caminho que escolhera. Fora o único.
– Estou muito feliz por ter você – tornou Marianne, também emocionada. – Hoje posso compreender muitas coisas. Principalmente o valor do amor.
Ross não disse nada. Sorriu e estendeu a mão para ela, convidando-a para sair. Fazia já algum tempo que haviam chegado àquele lugar e se preparavam para uma nova jornada na terra, dessa vez, no Brasil. Estavam em uma cidade invisível, localizada no espaço astral situado bem acima de Londres, preparada para receber espíritos que, a exemplo de Ross e Marianne, perderam suas vidas na guerra.
De mãos dadas, os dois saíram para o jardim. Marianne andava descontraída, como nunca pudera caminhar na Terra, a toda hora inspirando aquele ar revigorante. Sua aparência era a de uma menina de dezesseis anos, ao passo que Ross mantivera as feições do jovem maduro e muito seguro de si mesmo que já era aos vinte anos.
– O que será de mim agora? – questionou ela, ainda incomodada pela dor das muitas lembranças.
– Você sabe que vai reencarnar em breve.
– Não sei se terei coragem.
– Terá sim. Já passou pelo pior.
– Acho que não quero mais voltar. Quero ficar aqui. É tão bom…
– Você não pode, não deve. E os seus projetos de vida? Quer adiá-los?
Marianne olhou-o indecisa. Sua última encarnação, bastante difícil e dolorosa, fora uma escolha sua para acelerar a recomposição de seu corpo fluídico, tão comprometido pelos excessos do passado. Aquela vida não era nem de longe a vida que sonhara para si mesma. Tratava-a apenas de uma encarnação intermediária, na qual fizera uma espécie de limpeza em seu corpo espiritual, preparando-o para uma outra jornada, dessa vez mais prazerosa e alegre.
Com os olhos úmidos, ela respondeu convicta:
– Não quero adiar nada. Já perdi muito tempo. Não vou mais desperdiçar a vida.
– Ninguém perde tempo. O tempo é o mestre dos nossos destinos, porque é através dele que vamos coletando experiências para o nosso crescimento. Ninguém desperdiça tempo. Nós o aproveitamos com maior ou menor intensidade, mas nunca de forma inútil.
– Tem razão. Só que, quando penso no que já fiz… Fui tão ruim… A vida toda, fui uma pessoa má.
– Não diga uma barbaridade dessas! Você sabe que não era má. Era apenas descontrolada, em virtude de suas dificuldades mentais e espirituais. Mas maldade… essa é uma palavra muito forte que, decididamente, não se aplica a você.
– Que bem fiz nessa encarnação?
– Transformou a si mesma e salvou a vida de seus irmãos. Só isso já é o suficiente.
Ela não respondeu. Sentaram-se na grama do jardim para trocar ideias com uns amigos, e Marianne pousou a cabeça no ombro de Ross, distanciando-se da conversa. Não estava triste, mas seus olhos, de repente, começaram a divagar pelo horizonte, evocando lembranças dos últimos tempos.
Duas grossas lágrimas surgiram em seus olhos, e ela apertou o braço de Ross. O rapaz afagou os seus cabelos, e ela questionou:
– Como será a vida no Brasil?
– Deve ser boa, não sei. Dizem que é um país muito bonito.
– Vou deixar todo mundo aqui.
– Ao contrário, todos já foram para lá.
– Menos minha mãe.
– Você sabe que ela pertence a outra realidade. Vocês formaram elos poderosos e perpétuos, que a distância não poderá desfazer.
Marianne calou-se acabrunhada. Partiria em breve para uma nova encarnação no Brasil, junto daqueles que a vinham acompanhando por muitas vidas. Kate, contudo, não fazia parte desse grupo. Conhecera-a naquela vida, quando ela se dispusera a recebê-la como filha, não fazia muito tempo. Com o tempo, aprendera a gostar dela. E quem poderia não gostar de Kate?