Sexo é energia e está no mundo para ser vivido e aproveitado, mas com responsabilidade e respeito.
O segredo do perdão
é o olhar sem julgamento.
O segredo da fé
é procurar as provas.
O segredo do carisma
é olhar com amor.
O segredo da saúde
é a alegria.
O segredo da força
é a vontade.
O segredo do amor
é a inteligência.
O segredo do destino feliz
é ficar no melhor.
O segredo do equilíbrio
é buscar o espiritual.
A Vida tem seus segredos,
mas para quem está atento
fica fácil descobri-los.
Lançado em 2006
Ordem de lançamento: 7º
418 páginas
Que tal experimentar o começo do livro?
Capítulo 1
A gruta estava escura como sempre, e ouviam-se gemidos angustiados partindo de todos os cantos. Aqui e ali, alguns espíritos vagavam a esmo, procurando parentes, amigos, qualquer um que pudesse ajudá-los a sair. Mas não havia saída. O único lugar para onde se podia ir era para o interior da gruta, afundando mais e mais naquele mundo de trevas.
Althea levantou a cabeça e espiou. Suspirou profundamente, ergueu-se da pedra onde estava recostada e pôs-se a caminhar. Do lado de fora da gruta havia uma espécie de vale em que corria um rio fétido, onde caía pequena cachoeira de água suja e mal cheirosa. Ela estava com sede, e aquela era a única água que se podia beber por ali. Em silêncio, abaixou-se e apanhou um bocado de água nas mãos, levando-a aos lábios com avidez. Sorveu o líquido amargo e cerrou os olhos, tentando se lembrar da última vez em que bebera água límpida e fresca.
Ouviu passos atrás de si, mas não se interessou em olhar. Permaneceu agachada, bebendo a água em pequenos goles, até que o visitante falou com voz áspera e rouca:
– Althea! O chefe quer vê-la novamente! Agora!
Althea voltou-se lentamente e o encarou. Era um tipo alto e forte, olhos vermelhos, chispando fogo. Inspirou profundamente, soltou o resto da água que ainda se encontrava em suas mãos e respondeu de má vontade:
– Para quê? O que quer dessa vez?
Ele a encarou com cobiça e passou a língua nos lábios. Althea trajava apenas uma túnica preta, já esfarrapada, deixando à mostra seus joelhos e parte das coxas. Sem dizer nada, passou por ele sem nem encará-lo, mas ele a segurou pelo braço e virou-a para si, falando bem pertinho de seu rosto:
– Althea, por que não volta para mim? Sabe que podia fazê-la feliz, não sabe?
Ela olhou para ele com nojo e puxou o braço, cuspindo no chão e retrucando com desdém:
– Nem que tivesse que morrer mil vezes!
Virou-lhe as costas e voltou para dentro da gruta, ainda escutando os gritos do outro, que sacudia os punhos e esbravejava:
– Vai se arrepender, Althea, juro que vai! Irei atrás de você, não importa aonde vá!
Sem lhe prestar atenção, Althea entrou pela gruta e tomou uma trilha que descia ladeando as encostas escarpadas, beirando um precipício. Pouco depois, alcançava uma espécie de cidade rústica e sem qualquer ornamentação, envolta em brumas e extremamente quente. Foi caminhando pelas ruas irregulares, por onde passava toda sorte de espíritos sofredores, até que alcançou uma espécie de castelo feito de uma pedra negra e áspera. Imediatamente, os portões se abriram, e ela passou. Do lado de dentro, alguns soldados montavam guarda, impedindo que visitantes indesejados ultrapassassem os seus limites.
Althea já era bastante conhecida ali e, por isso, foi andando sem ser interpelada ou detida. Logo chegou a um imenso salão, onde se encontrava uma cadeira de espaldar alto, e se dirigiu para lá. O salão estava vazio, e ela ficou esperando que alguém aparecesse. Em pouco tempo, uma porta lateral se abriu e um homem entrou. Tinha uma aparência aterradora. Não era feio. Ao contrário, era até bonito. Mas seus olhos possuíam o fulgor da crueldade, e Althea sentiu um calafrio. Era sempre assim quando se encontrava na presença de Rupert, e ela estremeceu.
– Mandou me chamar, mestre? – indagou ela, fazendo uma reverência.
Rupert a estudou divertido, sentou-se no trono e fez sinal para que ela se aproximasse.
– Há quanto tempo está aqui, Althea? – indagou, encarando-a bem fundo nos olhos.
Ela pensou durante alguns segundos antes de responder:– Hum… creio que uns duzentos anos, talvez um pouco menos. Por quê?
– É bastante tempo, não acha? – ela aquiesceu em dúvida, e ele prosseguiu: – Pois é, Althea, eu ficaria muito infeliz se soubesse que você anda pensando em passar para o lado de lá…
– Lado de lá?
– É. O lado da luz. Você não pensa nisso, não é mesmo?
Althea gelou. Como ele adivinhara? Fazia já algum tempo que andava cansada de tudo aquilo e bem pensara em pedir auxílio aos servos da luz. No entanto, não tivera coragem e o máximo que se atrevera a fazer fora uma prece muito simples e rápida que, provavelmente, ninguém havia escutado. Mas se Rupert soubesse, ficaria furioso e mandaria acorrentá-la novamente. Tentando ocultar o nervosismo, considerou:
– Mestre, não sei do que está falando.
– Não sabe? Tem certeza?
Seu olhar era extremamente intimidador, e ela viu-se sem forças e sem ânimo para contestá-lo. Estava apavorada e queria fugir correndo dali, mas sabia que não podia. Enchendo-se de coragem, respondeu:
– Bem, mestre, eu não estava propriamente pensando em sair. Apenas fiquei curiosa…
– Curiosa? Ora vamos, Althea, mas que curiosidade é essa? Então não vê que isso já é o princípio de uma traição?
– Não… em absoluto. Foi apenas curiosidade mesmo. É que já estou aqui há tanto tempo…
Ouviu o estalar de um chicote e sentiu uma dor aguda no ombro esquerdo. Sem que percebesse, Rupert havia se levantado e lhe desferido violenta chibatada, e ela uivou de dor.
– Mentirosa! – vociferou ele. – O que pensa que sou? Algum imbecil?
Althea começou a chorar. Estava apavorada, com medo do que pudesse lhe acontecer. Rupert chegou bem perto dela e desembainhou a espada que trazia presa à cintura, encostando-a bem rente ao seu pescoço. Althea suava frio e tremia, completamente apavorada.
– Sabe que podia aniquilá-la de vez, não sabe? – ela fez que sim. – E sabe em que você se transformaria, não é mesmo?
– Si… sim…
– Quer perder essas belas formas de mulher? Quer?
– Não, mestre, por favor…
– Ouça, Althea, já vi muitas como você. Muitas pensaram que podiam me enganar, passando-se para o lado da luz. Mas sabe o que aconteceu a elas? Eu as aniquilei. Dei-lhes uma segunda morte. E sabe em que se transformaram? Em nada. Em formas ovoides, sem vontade e sem consciência, instrumentos perfeitos de obsessão e tormento.
– Por favor, meu senhor, não faça isso comigo. Eu não fiz nada…
– Por enquanto. Mas quanto tempo levará até que tente me trair de verdade?
Ela não respondeu. Estava apavorada, com medo até de pensar. Sabia que ele podia ler-lhe os pensamentos e nem queria imaginar o que poderia lhe acontecer se descobrisse que ela já estava farta daquela vida.
– Eu devia mesmo era tê-la deixado para Decius – continuou.
– Não! – gritou ela – Decius não, por favor!
Rupert soltou estrondosa gargalhada e segurou-a pelos punhos.
– Tem medo de Decius, não é? Tem mais medo dele do que de mim. No fundo, sabe que eu sou bom para você. Posso castigá-la de vez em quando, mas é para o seu bem. Contudo, quem lhe dá proteção? Sou eu. Quem cuida de você? Eu também. Quem impediu que a destroçassem, logo que veio para cá? Eu.
– Eu sei, mestre, e lhe sou muito grata.
– Pois não parece. Devia ter mais consideração. Se não fosse eu, Decius já a teria apanhado. Sabe o que ele sente por você, não sabe?
Althea encolheu-se toda. Lembrou-se dos poucos minutos atrás, em que Decius fora chamá-la na beira do rio e quase a agarrara. Decius havia sido seu marido em sua última encarnação. Um homem rico e poderoso, extremamente cruel e impiedoso. Althea, por sua vez, era uma jovem linda e exuberante, inteligente e mestra na arte de manipular espíritos ignorantes, colocando-os a seu serviço em troca de pequenos agrados, em geral, moedas e sangue fresco de animais. Não amava o marido. Casara-se com ele porque era rico e influente, viúvo, com uma filha um pouco mais jovem do que ela, de nome Severn.
Durante suas várias existências, Althea sempre se demonstrou uma pessoa orgulhosa, fria, dissimulada, cruel, imoral… Gostava de sexo e trocava de parceiros sem o menor constrangimento, sem se importar se eram homens ou mulheres. Desde que lhe dessem prazer, eram bem vindos em sua cama. Tinha apenas dois interesses na vida: sexo e poder, e era-lhe até mesmo difícil precisar qual dos dois alimentava mais o seu ego.
Logo se interessou pela jovem e linda filha de Decius. Utilizando-se de sua magia, fez um trato com espíritos trevosos, prometendo-lhes inúmeros sacrifícios, caso levassem para seu leito a jovem Severn. O resultado custou, mas chegou. Severn, moça imprudente e sensual, acedia às sugestões de seus obsessores e, sem nem entender por quê, viu-se, de uma hora para outra, desejando o corpo esbelto de Althea. As duas tornaram-se amantes. Severn, com o tempo, foi realmente se apaixonando por Althea, mas esta não estava interessada em amor. Só o que queria era prazer.
Um dia, o inevitável aconteceu. Decius descobriu tudo e encheu-se de cólera. Sentia pela filha e lamentava por sua Althea. Sentiu-se traído, humilhado, escarnecido. Althea lançou-lhe em face os piores impropérios, acusando-o de ser mal amante e de não chegar aos pés de Severn. Não conseguindo conter a fúria, Decius partiu para cima dela e começou a apertar o seu pescoço, e Althea sentiu-se violentamente arrancada do corpo, tendo sido levada por seus escravos para as profundezas do umbral.
Ao adentrar o castelo de Rupert, Althea se assustou com o seu ar lúgubre e gélido. Embora a cidade ao seu redor fosse quente qual uma fornalha, o ar ali era frio como de uma geleira. Rupert se apresentou logo que ela chegou. Dissera-lhe que já eram antigos conhecidos, pois que era com ele que tratava os seus serviços. Mas agora era hora de pagar-lhe o justo preço. Os sacrifícios que ela lhe oferecia representavam apenas a quota do mundo carnal, mas era chegada a hora de pagar também as parcelas do astral.
Althea assustou-se e quis protestar, mas foi logo acorrentada e submetida a toda sorte de torturas. Aos poucos, Rupert a foi dominando e domando, e logo ela se transformou em sua escrava mais fiel. Anos depois, quando Decius desencarnou, foi recolhido por Rupert, e qual não foi o espanto de Althea ao descobrir que eles haviam sido amigos em uma vida anterior, e que essa amizade continuava no mundo das trevas.
Quanto a Severn, casou-se e teve filhos, e passou pouco tempo no umbral quando desencarnou. Logo clamou pelo auxílio de Deus e partiu em direção à luz, e Althea nunca mais soube de seu paradeiro.
Althea voltou seus pensamentos para a realidade e fixou Rupert com angústia. Se Decius a pegasse, seria mesmo o seu fim. Ele a escravizaria e aproveitaria para ultimar a vingança que não conseguira realizar durante aqueles quase dois séculos. Tentando manter-se calma e confiante, ponderou:
– Ouça, Rupert, sei que errei, mas gostaria de mais uma chance.
– Hum… não sei se você está merecendo. Talvez Decius consiga colocá-la de volta em seu devido lugar.
– Por favor, mestre, perdoe-me. Prometo nunca mais pensar nos espíritos de luz. Foi apenas uma curiosidade, imprudência, eu sei, mas não fiz por mal.
Rupert permaneceu alguns minutos calado, estudando-a. Quando afinal falou, foi com voz ameaçadora e incisiva:
– Está bem, Althea. Vou lhe dar mais uma chance. Mas, se falhar, já sabe. Se não acabar com você, eu mesmo, entrego-a nas mãos de Decius e não quero mais saber de você.
– Oh! obrigada, Rupert. Não vai se arrepender, você verá.
– Tenho uma tarefa para você. Coisa simples, espero.
– De que se trata?
– De uma senhora. Fizeram-me generosa oferta para trazê-la para cá. A família está de olho na herança, e o que você tem a fazer é sugar-lhe as energias, até que ela não resista e desencarne. Acha que pode dar conta?
– Sim, mestre, estou certa de que sim. Sei perfeitamente como sugar as energias dos encarnados e não será difícil trazê-la para cá.
– Ótimo. Mas lembre-se. Não falhe. Caso contrário, não serei mais responsável pelo que lhe irá acontecer.
Althea saiu dali mais tranquila. A tarefa não era das mais difíceis, e ela se desincumbiria dela com maestria. Precisava reconquistar a confiança de Rupert, ou Decius acabaria com ela.